segunda-feira, 4 de maio de 2009

O meu avô na Guerra de Ultramar






No dia 2 de Agosto de 1966, o meu avô Gaspar Pio foi chamado para o serviço militar, incorporado no batalhão 1901, companhia 1637, do regimento de Caçadores de Castelo Branco.
No dia 21 de Janeiro de 1967 e apenas com 21 anos de idade, embarcou no paquete de Vera Cruz, com destino a Angola, como padeiro da companhia.
Depois de 8 dias de intensos exercícios de guerra, foi então para a zona de guerra, a 300 km de Luanda, zona que se chamava Nambuangongo, Quipedro e Micula.
Ao fim de 9 meses, foram transferidos para o leste de Angola, mais precisamente Alto Cuíto, a 1800 km de Luanda. Essa viagem demorou 13 dias, ficaram sem alimentação durante 3 dias, até que encontraram uma plantação de mandioca. Alguns saltaram dos camiões que os transportavam e colheram mandioca suficiente para todos matarem a fome, mas infelizmente um dos colegas de armas do meu avô, como ele gosta de lhe chamar ainda com muito carinho, caiu numa armadilha e morreu.
O meu avô ficou desolado porque era o seu melhor amigo.
O resto da viagem decorreu sem percalços, apesar do sofrimento de todos pela morte do companheiro.
Ao chegarem ao 1º acampamento que encontraram, fizeram um “assalto” ao carro dos géneros alimentícios, apenas para tirarem umas batatas e uns grãos de massa, que foram cozinhados em latas encontradas dentro das cubatas dos turras, nome pelo qual eles denominavam os habitantes civis de raça negra que eram seus aliados.
Ainda hoje o meu avô diz que foi a melhor sopa que alguma vez comeu.
Chegaram à zona do Alto Cuíto, que estava dominada pelos guerrilheiros da UNITA, e aí permaneceram algum tempo em paz.
No dia30 de Novembro de 1967, foram atacados e refugiaram-se dentro de um rio que ali passava. Esteve muito perto da morte, com balas a cair-lhe a 30 cm da cabeça, mas conseguiram sair todos ilesos desse ataque, porque reagiram, atacando o inimigo que se pôs em fuga.
Tinham que andar uma vez por semana cerca de 200 km, para irem buscar o correio e alguns alimentos. Demoravam 6 dias, porque a picada era de areia e os carros ficavam presos. Numa dessas viagens, perderam mais um companheiro que caiu num a emboscada.
Deste fim do mundo do Alto Cuíto vieram para mais perto de Luanda, o que foi bom, porque estavam perto da praia e de tudo o que era mais agradável.
Daí guarda boas recordações, como por exemplo aprendeu a tocar acordeão com um companheiro e ainda hoje sabe tocar.
E assim acabou a sua missão e, no dia 28 de Fevereiro de 1969, chegou a Portugal.
Ainda hoje o meu avô tem traumas e sonha com o que viveu em Angola.
Adriana Lopes